Oscars 2018: “The Post”

Hoje vamos falar sobre um dos filmes mais comentados da temporada que talvez você gostará bastante, ou não.

Alô jornalistas de plantão!

The Post” (The Post – A Guerra Secreta) é mais uma obra dirigida e produzida pelo titio Steven Spielberg, que para várias pessoas está mal das pernas quando se trata de seus filmes recentes. Por outro lado, muitos se sentiram contemplados com a história e abraçaram a narrativa pela sua atemporalidade, apesar de trabalhar com um contexto setentista.

Spielberg “retorna” após “Bridge Of Spies” (2015) com um drama histórico, político e bastante relevante para o cenário contemporâneo norte-americano/mundial, ainda mais na “era Trump”. Sem falar que o elenco foi muito bem escalado pelo próprio diretor, eu não costumo falar diretamente das atuações, porém irei mencionar durante o post algumas nuances de personagens específicos super úteis para entendermos o ritmo da trama.

Após “Indiana Jones”, “E.T.”, “The Color Purple”, “Schindler’s List” e outras dezenas de contribuições para a história do cinema, Steven se aventura pela primeira vez no mundo do jornalismo para desenvolver narrativamente um dos eventos que marcaram o legado dos Estados Unidos. Liz Hannah assina o roteiro.

Lançamento:
14/12/2017 – Newseum (exibição exclusiva)
22/12/2017 – EUA (comercial)
01/02/2018 – Brasil (comercial)

Indicações:
Melhor Atriz
Melhor Filme

OBS¹ – Meryl Streep supera o recorde dela mesma ao ser indicada 21 vezes.

OBS² – Spielberg consegue sua 11° indicação em Melhor Filme, outro recorde.

Estamos nos anos 70, palco de vários conflitos políticos bem tensos e com o New York Times publicando diversas matérias de denúncia a respeito do governo norte-americano caladinho sobre o andar da Guerra do Vietnã. Segredos outrora jogados para debaixo do tapete, agora estão disponibilizados para os cidadãos lerem e questionarem sobre a atuação dos EUA na guerra, que segundo os documentos sigilosos, já estava perdendo o conflito desde o começo e uma quantidade enorme de mortes poderiam ser evitadas.

Eis que o presidente da época (Richard Nixon) fica no ódio com os vazamentos dos papéis do Pentágono e resolve processar o NYT, o que acaba dando certo com base na Lei da Espionagem e a partir disso nenhum dado a mais poderia ser divulgado.

Mas se você pensa que a história acaba aí, pense de novo, pois outro jornal de grande circulação no país se levanta para continuar os processos investigativos, estou falando do The Washington Post. Lá temos a Kay Graham (Meryl Streep), a dona do TWP e Ben Bradlee (Tom Hanks), o editor-chefe.

Bradlee tem como seu braço direito Ben Bagdikian (Bob Odenkirk), os dois são esfomeados por notícias e se dedicam bravamente para revelar ao mundo todas as coisas escondidas e proibidas pelo governo, além de almejar que o jornal suba cada vez mais de patamar.

O “problema” é que o The Washington Post está se lançando na Bolsa de Valores, com o intuito de crescer ainda mais financeiramente e se consolidar no mercado sem futuras crises e riscos. Kay Graham funciona não só como a dona disso tudo, mas também como uma mediadora das relações comerciais e políticas de seu jornal, o que requer um cuidado redobrado com cada passo dado.

Aqui vemos uma Meryl Streep oferecendo uma atuação formidável em cada diálogo, sem exageros. Kay é a única mulher no meio de tantos homens poderosos e difíceis de convencer, isto acaba fazendo com que ela seja questionada várias vezes sobre suas decisões. Quase sempre há uma nuvem de insegurança sobre suas escolhas e Meryl executa o comportamento da protagonista de modo convincente, seja roendo as unhas ou hesitando nas horas das respostas, diferentemente da abordagem interpretativa em “A Dama de Ferro” (2011), onde tínhamos uma mulher inabalável.

Falando em desigualdade de gênero, Spielberg é bem didático nas escolhas das cenas para exemplificar a situação. Por exemplo, tem um momento que Kay passa por um corredor de mulheres e logo em seguida entra em uma sala lotada de executivos usando terno e gravata. A figura feminina é retratada no longa de forma real, em posições menos privilegiadas, Graham é uma das exceções por ter ainda a palavra final no meio em que vive.

Continuando sobre o elenco incrível, temos Sarah Paulson interpretando Tony Bradlee. Infelizmente ela não aparece tanto, mas isso não a impede de brilhar em alguns momentos mesmo sendo um personagem terciário.

Bob Odenkirk está muitíssimo bem como Ben Bagdikian, faz-se presente aquela visão romantizada do jornalista que corre pela notícia, cuida da sua fonte e se dedica diariamente para conseguir as melhores oportunidades para veicular no jornal em que trabalha.

A relação de Bradlee e Graham é de respeito e admiração, porém isso não impede algumas discordâncias no meio do caminho.

Temos uma história que se desenrola lentamente, o que pode acabar sendo massante para quem não gosta muito de filmes desse estilo, entretanto para aqueles que amam obras cinematográficas baseadas em eventos reais, é uma ótima escolha para conhecer diversos detalhes do jornalismo dos anos 70 e como a relação desta profissão X instituições de poder do governo se configuravam há quase cinco décadas.

“The Post” é inteligente, dramático e bem conduzido, poderia ser mais conciso, sem dúvidas, porém isso não atrapalhou a minha experiência ao assisti-lo. Com um elenco escolhido minuciosamente por um diretor detentor de um legado absurdo na indústria do entretenimento, temos mais uma obra com uma urgência temática pertinente e convincente para o contexto ao qual nossa sociedade encontra-se inserida.

Então é isso.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Publicado por André Carvalho (@notandrenot)

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